Natália
Pinto, de 46 anos, vive em Lisboa com um filho menor, que tem a cargo, e, mesmo
trabalhando 12 horas por dia, seis dias por semana, precisa de pedir ajuda para
comer.
“Trabalho
o máximo que posso, faço horas extra, trabalho em dia de folga, aproveito todas
as oportunidades para ganhar mais algum dinheiro, mas as despesas são
constantes, e o meu ordenado – de pouco mais de 500 euros – não chega para
tudo”, conta à Lusa esta vigilante numa empresa de segurança privada.
Natália
Pinto completou o 9.º ano de escolaridade. Vive na Penha de França com um filho
adolescente, que ainda estuda. Ajuda “como pode” o filho mais velho, de 28
anos, que, embora já tenha saído da casa da mãe, está desempregado.
Pelo
apartamento que arrenda, Natália paga 400 euros, fora eletricidade, água e
telefone. De segunda a sábado, levanta-se às 05:30, sai de casa às 07:00, e
regressa às 21:00.
“Ajudas”,
diz, “só o abono do miúdo, que é de 42 euros”, e a ajuda alimentar que recebe
da associação Auxílio e Amizade. Esta mãe chegou à associação “por desespero”,
quando o subsídio de desemprego chegou ao fim.
“Fiquei
desempregada em 2009. Nessa altura era gerente de uma loja de roupa. Enquanto
recebi o subsídio de desemprego nunca fiquei parada, trabalhei como assistente
operacional na área da Educação, com uma bolsa do centro de emprego”, contou.
Durante
mais de três anos, perdeu a conta aos quilómetros que fez, “de loja em loja, de
pastelaria em pastelaria”, a entregar currículos e a pedir emprego. “Nada, não
encontrava nada em lado nenhum”, recorda.
Quando
deixou de ter direito ao subsídio de desemprego, “chegou a não ter um pão para
comer, nem para dar ao filho”. Entretanto, conseguiu um trabalho precário como
empregada de limpeza numa empresa privada e, “fazendo um esforço muito grande”,
pôs de parte dinheiro para tirar um curso de vigilante de segurança privada
certificado pelo Ministério da Administração Interna.
No
dia 18 de fevereiro deste ano começou funções no novo emprego. Diz que é “feliz
no que faz”, mas que a sua vida não está ainda como ela gostava que estivesse.
“Praticamente
deixei de comer para pagar o meu curso, estou agora a repor rendas da casa que
tinha em atraso, preciso de ajuda para comer, e, por exemplo, este mês não
consegui pagar o passe para ir trabalhar, é de um dia para o outro que vejo
como compro o bilhete”, disse.
Natália
não esconde também que sente “uma revolta muito grande” para com o Estado: “Eu
esforço-me, sou trabalhadora, e nunca ninguém me deu nada. Vejo que cada vez há
mais pobreza, e que não há nenhum critério para a atribuição de ajudas. Por
exemplo, nunca consegui ter acesso a uma renda social e vejo muitas pessoas que
não trabalham, que nunca se esforçaram para trabalhar, a terem direito a casas
pelas quais pagam um quarto daquilo que eu pago pela minha”, concluiu.
Data:
26/05/2013
Câmbios:
500
euros = R$ 81.7888 / 400 euros = R$ 65.4310 / 42 euros = R$ 6.8703
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